Tuesday, May 16, 2006

Algumas passagens de Mário Vieira de Mello

“A educação no Brasil não visa criar um ethos no homem; seu objetivo era antes e continua a ser o de criar o grande profissional, a figura brilhante, o herói da inteligência, ideal estético que domina de maneira avassaladora o ambiente cultural do país”. p.51.

“O esforço de adaptar o indivíduo ao meio social em que vive leva à formação de um tipo de indivíduo incapaz de julgar por si mesmo o que é justo... incapaz de julgar qualquer coisa por si mesmo. Seus pensamentos serão sempre os pensamentos da sociedade à qual está adaptado. Não poderá haver fracasso maior em matéria educacional”. p.55.

A Idéia de Liberdade

“A idéia de liberdade tem duas histórias. Deriva de um lado da carreira feita pela idéia de igualdade. Temos então o tipo de liberdade que pode ser chamada de externa. É a liberdade que o homem pode ter pelo fato de ser igual a outros homens. Essa espécie de liberdade deve ser considerada externa porque se restringe somente ao que diz respeito ao nosso comportamento externo. É oriunda de uma noção inteiramente – como a igualdade –relacionada com a problemática do Poder. Os homens são iguais e livres a fim de terem o poder de fazer livremente e igualmente as mesmas coisas.

Mas existe também uma idéia de liberdade que não deriva da noção de igualdade, embora derive da idéia de justiça... Mas temos nesse conceito mais complexo de justiça uma idéia que paradoxalmente parece identificar-se com a noção mesma de desigualdade. Existem homens que são justos contrariamente ao que acontece com a maioria deles. Esses homens são igualmente livres; conseguem controlar suas próprias paixões e instintos e desse modo adquirem um certo grau de liberdade. Essa espécie de liberdade não outorga poder sobre as coisas ou outros homens, mas oferece ao homem que a possui uma entrada franca no mundo da cultura.

À liberdade assim constituída só podemos chamar de liberdade interior”. p.98

Do livro um Conceito de uma Educação da Cultura com referência ao Estetismo e à criação de um espírito ético no Brasil. Ed. Paz e Terra, 1986.

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